Repensando a Valoração de Blockchain para a Era da Infraestrutura Descentralizada
Métricas tradicionais falham em capturar o que as blockchains realmente são. Um novo paradigma é necessário—um enraizado no uso, fluxos monetários, utilidade pública e pegada econômica.
Valorar blockchains hoje é como tentar precificar a internet antes de entendermos o que eram sites. Nos primeiros dias da web, analistas aplicaram estruturas familiares, mas falhas, como visualizações, receita de anúncios, taxas de queima, apenas para descobrir mais tarde que nenhuma dessas capturava o que realmente impulsionava o valor. Estamos em um momento semelhante com as blockchains: apesar de sua importância econômica e social, não existe um modelo amplamente aceito ou padronizado para como elas devem ser valorizadas.
Essa falta de consenso não se deve a uma escassez de esforço. Vários frameworks foram propostos, cada um trazendo algo à mesa, mas cada um falhando em aspectos-chave. É hora de dar um passo atrás e reconhecer tanto as limitações desses modelos existentes quanto a necessidade de algo mais nativo ao funcionamento das economias blockchain.
O Modelo DCF e Baseado em Taxas: Lógica Mal Aplicada
A abordagem mais comum, particularmente entre analistas financeiros tradicionais, tem sido aplicar modelos de Fluxo de Caixa Descontado (DCF) ou focar nas taxas geradas pelo protocolo ou seus validadores. Este método trata uma blockchain como uma empresa de software como serviço (SaaS), estimando seus fluxos de caixa futuros e descontando-os para o valor presente.
Mas esse framework rapidamente colapsa sob escrutínio:
As blockchains não são empresas. Elas não têm acionistas, lucros retidos ou gestão buscando maximizar lucros.
As estruturas de taxas são dinâmicas e muitas vezes políticas. Protocolos podem—e fazem—reduzir taxas por razões estratégicas (por exemplo, escalonamento de Camada 2).
Subsídios distorcem a realidade. Alguns ecossistemas, como Solana, subsidiam fortemente as receitas dos validadores, o que inflaciona os “ganhos” percebidos sem refletir o uso real e orgânico.
Em última análise, o DCF assume um emissor central e um fluxo de receita previsível, nenhum dos quais é natural para blockchains públicas descentralizadas.
MSOV: O Modelo de Armazenamento Monetário de Valor
Outro modelo que está ganhando força é o framework de Armazenamento Monetário de Valor (MSOV), que valoriza um ativo blockchain com base em como ele é usado dentro de primitivos financeiros—principalmente staking e depósitos em finanças on-chain. A ideia subjacente é que um token de infraestrutura pode ser entendido como uma mercadoria usada para funções econômicas, em vez de um instrumento de segurança ou capital.
O modelo MSOV captura elementos úteis, especialmente para ativos de "camada base econômica" como ETH. No entanto, tem suas próprias limitações:
Ignora em grande parte a dimensão do fluxo—como o capital se move através do ecossistema.
Superestima o capital parado (por exemplo, ETH bloqueado/staked) em vez do capital ativamente em uso.
Pode falhar em capturar casos de uso emergentes como pagamentos de Camada 2, NFTs e tokenização de ativos do mundo real.
O MSOV é uma lente útil para um aspecto da valoração—especialmente para entender "capital em repouso"—mas não leva em conta a vivacidade ou a velocidade da atividade da rede.
PIB On-Chain: Pensando Como Economistas
Outra categoria promissora são os modelos de PIB on-chain. Estes tentam medir a produção econômica total facilitada por uma rede blockchain, emprestando conceitos macroeconômicos como produto interno bruto. Os modelos de PIB on-chain normalmente consideram:
* Taxas pagas por computação e armazenamento
* Valor total bloqueado (TVL)
* Emissão e circulação de stablecoins
* Receita de aplicações (em DeFi, NFTs, etc.)
* Interações de ativos de Camada 2 e off-chain
Importante, este modelo é frequentemente dividido em dois componentes:
PIB da Cadeia – Atividade diretamente na cadeia base (por exemplo, Ethereum L1)
PIB de Aplicações – Atividade econômica em cima dessa cadeia (por exemplo, aplicativos L2, uso de stablecoins, protocolos DeFi)
O PIB on-chain é um grande passo na direção certa, mas suas limitações são estruturais:
É difícil normalizar entre cadeias. Nem todas as blockchains publicam dados comparáveis, e as definições de PIB variam.
Falta granularidade. Muitas métricas de "PIB" confundem operações internas (por exemplo, recompensas de staking) com valor real voltado para o usuário.
Ainda não rastreia a velocidade econômica. Você pode medir o tamanho de uma economia, mas não seu pulso.
Como nota lateral, o aspecto da camada de dados das blockchains ainda está ausente dos frameworks de valoração.
Uma Nova Lente: Valorizando Blockchains pela Velocidade e Fluxo
Reconhecendo essas lacunas, estou desenvolvendo um framework emergente centrado na velocidade monetária e no fluxo de valor dentro da economia blockchain. Esta abordagem é construída sobre a premissa de que as blockchains são melhor compreendidas como sistemas econômicos dinâmicos, não entidades financeiras estáticas.
Neste modelo, o que mais importa não é apenas quanto valor uma cadeia detém, mas como esse valor se move:
Quão rapidamente as stablecoins circulam?
Com que frequência os NFTs são negociados?
Com que frequência os tokens são transferidos ou trocados?
Qual é a taxa de uso de ativos em protocolos DeFi?
Qual é o fluxo de ETH entre L1s, L2s e dApps?
Quais são os volumes de tokenização em ativos do mundo real?
Essas perguntas fundamentam o modelo "ETH em Movimento" que introduzi. É um framework que mistura teoria econômica com dados on-chain para derivar valor econômico ajustado pela velocidade, um proxy para quão ativa, confiável e produtiva a economia de uma blockchain realmente é.
A valoração baseada em velocidade oferece várias vantagens:
Mais difícil de manipular: Ao contrário de receitas ou TVL, que podem ser inflacionadas através de incentivos ou wash trading, a verdadeira velocidade econômica requer demanda genuína.
Nativa à tecnologia: Fluxo e velocidade alinham-se com a natureza aberta e programável das finanças baseadas em blockchain.
Captura toda a pilha: Seja o fluxo de valor através de aplicativos, cadeias ou pontes, este modelo leva em conta a composabilidade em um mundo multi-chain.
Por que Isso Importa
A ausência de um padrão de valoração aceito é mais do que um problema acadêmico. Isso:
* Confunde investidores e alocadores tentando diferenciar entre blockchains
* Permite marketing manipulativo (por exemplo, inflacionando "receitas" para simular tração)
* Impede o desenvolvimento de benchmarks credíveis e baseados em dados para a adoção institucional
Vale também reconhecer que pode não encontrarmos um único modelo de valoração. Assim como diferentes analistas de ações usam EV/EBITDA, P/E e fluxos de caixa descontados dependendo do modelo de negócio, a valoração de blockchain pode exigir uma abordagem multidimensional—uma que misture MSOV, PIB, velocidade e mais.
Rumo a um Framework de Valoração que Combina com a Inovação
A tecnologia blockchain é muito inovadora, muito fluida e muito transformadora para ser encaixotada em modelos financeiros do século XX. Blockchains públicas não são corporações; são redes, plataformas, economias e sistemas monetários tudo em um. Essa complexidade exige um novo pensamento.
Ainda não temos um modelo amplamente aceito. O DCF é insuficiente. O MSOV é útil, mas parcial. O PIB nos dá escopo, mas não ritmo. Modelos de velocidade e fluxo podem oferecer o ingrediente que falta: uma maneira de medir como uma blockchain vive.
Os frameworks de valoração do futuro serão construídos, não herdados. E assim como os primeiros investidores da internet tiveram que inventar novas ferramentas para entender o que estavam vendo, o mundo blockchain agora deve fazer o mesmo.
Se acertarmos isso, não apenas valoraremos blockchains de forma mais precisa. Finalmente seremos capazes de entender o que elas realmente valem para o mundo.
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